segunda-feira, 17 de maio de 2010

Incêndio no laboratório de répteis do Instituto Butantan

O fogo destruiu a maior coleção científica de cobras do mundo, iniciada há 120 anos.

Talvez tenha sido o dia mais lastimável na história da Zoologia brasileira nas últimas décadas. No incêndio, ocorrido neste sábado, 15 de maio, a Coleção Científica do Instituto Butantan, em São Paulo, foi completamente perdida. Cerca de 85 mil exemplares eram guardados no prédio.

O acervo representava um extraordinário banco de dados que documentava a história das serpentes e dos processos que levaram à sua origem e diversificação. Documentava também a própria história da ocupação humana no país por meio dos registros de cobras recebidas pelo Instituto ao longo do século passado.

Até o momento, estima-se que mais de 75.000 espécimes tenham sido incinerados. Espécimes raros, por muitas vezes únicos; espécimes endêmicos; espécimes de animais já extintos ou ameaçados; espécies novas ainda não descritas; espécimes-tipo; material em permuta nacional e internacional.

Centenas de graduandos, mestrandos, doutorandos, professores e pesquisadores não mais poderão consultar certos holótipos (indivíduos geralmente em perfeitas condições que representam oficialmente uma espécie), não poderão examinar a anatomia de certos espécimes, não poderão fazer certas revisões sistemáticas e taxonômicas, analisar conteúdo estomacal, descobrir novas espécies, realizar estudos biogeográficos, entre outras dezenas de importâncias de uma coleção como essa, referência em todo o globo. Muitos desses cientistas perderam meses, anos e décadas de pesquisas, algumas custeadas por grandes agências de financiamento. Muitos deles terão de adequar ou até mesmo se desfazer dessas pesquisas.

Os animais mortos são conservados em produtos químicos inflamáveis, como o etanol, favorecendo a disseminação das chamas.

A tragédia terá repercussões ainda não estimadas.

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